Qual foi a importância histórica das mulheres negras no samba?
O samba é o ritmo símbolo de resistência da cultura negra. E as mulheres negras foram
essenciais para que ele pudesse seguir existindo no período pós-escravidão. Se
não fosse por elas, o samba não existiria hoje.
A origem do samba no Brasil é
incerta. Mas todas as possíveis explicações apontam que as raízes do gênero
estão na África e foram trazidas pelos negros escravos no período colonial
brasileiro.
No entanto, pouco tempo após seu surgimento, o ritmo esteve ameaçado de
extinção. Não muito depois da abolição da escravatura, foi sancionada a Lei da
Vadiagem (1941), que considerava ociosidade como crime e permitia a prisão de
pessoas que andassem nas ruas sem documentos.
Isso afetava diretamente os homens negros que estavam desempregados,
muitas vezes sem teto e sem nenhuma possibilidade de serem contratados devido
ao forte preconceito racial da época.
Kelly Adriano de Oliveira,
doutora em ciências sociais pela Unicamp, afirma que tanto as mulheres quanto a
religiosidade afro-brasileira tiveram um grande
papel para que o samba conseguisse resistir, porque era dentro
dos terreiros das casas das tias baianas -- cujo símbolo ficou marcado em Tia
Ciata --, no espaço privado e escondido, que o samba podia acontecer.
Não à toa, a valorização da ala das baianas nas escolas de samba é uma
forma de homenagear não apenas Tia Ciata, mas a memória de todas as tias
baianas do samba.
Mulheres
pioneiras na história do samba
A antropóloga conta que apenas depois da década de 30 o samba passou a ser
aceito como cultura popular, reforçado por Getúlio Vargas “com o movimento de
valorização do que era brasileiro, o que faz o Brasil o Brasil, e a tentativa
de incorporar uma falsa democracia racial, de um país que supostamente aceita
sua negritude e suas raízes”.
Um marco feminino dentro na
história do samba, em meio toda essa imensa dificuldade, é a Madrinha Eunice,
uma mulher cuja memória de luta é imensurável. “Ela foi a primeira mulher a
presidir uma escola de samba, a Lavapés de São Paulo, que surgiu na verdade
mais como um cordão carnavalesco”, contextualiza Kelly.
Porém, só mesmo depois da década de 60 que mulheres puderam ter alguma
visibilidade dentro do espectro musical do samba e aí começam a surgir nomes
vindos do Rio de Janeiro, como Clementina de Jesus e Dona Ivone Lara – a
segunda que é, na opinião de Kelly, o principal símbolo desse contexto.
O
papel das intérpretes para a difusão e popularização do samba, principalmente
Clara Nunes -- com pele clara, mas ascendência negra --, Alcione, Leci Brandão
e Beth Carvalho, que amadrinhou muitos sambistas, também foi essencial para a
cultura musical brasileira.
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