A Morte de Marielle desmascarou cultura racista - Blog do CaraECULTURANEGRA

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4 de maio de 2018

A Morte de Marielle desmascarou cultura racista



Por  ANA MÍRIA DOS SANTOS CARVALHO CARINHANHA, da  Revista Galileu 

TRIBUTO À MARIELLE FRANCO, FEITO POR DANIEL ARRHAKIS (FOTO: DANIEL ARRHAKIS/ FLICKR)
Em 14 de março, quando a vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, foi assassinada no centro da cidade, sua morte mexeu com todo o mundo.
Manifestantes tomaram as ruas de Nova York, Paris, Buenos Aires e em outros tantos lugares, empenhados em continuar a luta de Franco contra o racismo, pobreza, desigualdade e violência.
Eleita em 2016 após trabalhar dez anos na Comissão de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Franco tinha orgulho de ser uma mulher lésbica e negra, nascida em um dos bairros mais pobres da cidade, em uma favela. Ela usava seu poder oficial – o seu “mandato coletivo”, como ela dizia – para manter o governo conservador do estado atualizado sobre sua população marginalizada.
Franco era particularmente crítica às ineficazes respostas do governo à quantidade de tiroteios policiais nas favelas mais negras do Rio de Janeiro. Os ativistas locais consideram essas mortes um “genocídio à população negra”.
Como uma advogada brasileira e negra, eu posso ver que o assassinato de Franco – reconhecido como crime político que ainda permanece sem solução – rompeu com o perigoso silêncio que cerceava o assunto de raças no Brasil.
Essa mudança parece estar deixando alguns poderosos insatisfeitos. Em 9 de abril, Carlos Alexandre Pereira Maria, assessor do vereador carioca Marcello Siciliano (PHS), também foi assassinado. Na ocasião, Siciliano, seu chefe, havia recentemente prestado depoimento à polícia a respeito da investigação da morte de Franco.
Algumas testemunhas dizem que os atiradores que mataram Pereira Maria, que também é negro, alegaram que ele deveria “calar a boca”.
A história racista do Brasil
O Brasil, país em que 54% da população é negra, tem a fama de ser uma “democracia racial” – uma sociedade tão diversa que o racismo não seria nem capaz de existir.

Isso é um mito.
Os brasileiros negros ganham, em média, 57% menos do que os brancos. Eles compõem 64% da população carcerária. 71% do Congresso do país é formado por brancos.
O racismo remonta há séculos. O país não foi somente um império colonial de escravos – na verdade, foi a última nação do hemisfério ocidental a abolir a escravatura, em 1888. Antes disso, o código penal brasileiro impunha severa punição aos escravos, incluindo até execução.
Quando, finalmente, os afro-brasileiros adquiriram direitos legais, em 1888, o governo não ofereceu reparação ou ajuda financeira a essas pessoas, mesmo após 450 anos de servidão.
Durante a década de 1910, sociedades eugênicas surgiram em São Paulo e no Rio de Janeiro. Inspiradas na pseudociência racista de norte-americanos e ingleses, esses grupos estimularam a criação de um movimento nacional para “aperfeiçoar a raça humana”, limpando o sangue “indesejável” do Brasil.
A população negra era o principal grupo que os eugênicos propunham segregar da sociedade, barrando a entrada deles no país ou julgando-os com “mentalmente defeituosos”.
Os alicerces racistas do movimento eugenista justificariam as práticas discriminatórias que aconteceram no Brasil nas décadas seguintes. O governo proibiu a capoeira, uma arte marcial e dança afro-brasileira, até a década de 1950. Também foi tornado ilegal a vagabundagem, o que criminalizou diversos moradores de rua e negros desempregados.










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